Última atualização em 22/09/2023 às 09:09:46
De acordo com o neurocirurgião do Instituto de Promoção e de Assistência à Saúde de Servidores do Estado de Sergipe (Ipesaúde), Fernando Aguiar, no consultório os familiares dos pacientes chegam relatando um quadro de esquecimento progressivo. Segundo ele, o paciente tem mais facilidade de evocar coisas do passado e, por exemplo, fala de pessoas que já faleceram e acha que mora numa casa que residia quando era mais novo.
Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada como um quadro de demência. É uma patologia de causa desconhecida e sem cura, que tem como primeiro sintoma a perda de memória para acontecimentos recentes. Como a doença avança progressivamente, a melhor forma de prevenção é adotando as boas práticas de vida e indo ao médico com regularidade.
O médico acrescentou ainda que o paciente progressivamente perde a sua independência, a capacidade de cuidar de si e passa a depender de terceiros para praticamente tudo. “Ele começa a negligenciar com os cuidados de higiene pessoal e também passa a ter uma urgência para urinar. Nas fases mais avançadas da doença ele passa a urinar e defecar na roupa e muitas vezes sem se incomodar pelo fato de estar sujo”, explicou.
Conforme o neurocirurgião, esse paciente depois evolui para uma incapacidade progressiva e nos estágios avançados da doença fica totalmente restrito ao leito, em cadeira de rodas, muitas vezes precisa de sonda para receber a alimentação e passa a ser 100% dependente do cuidador para todas as atividades.
Múltiplas morbidades
Os pacientes que são acometidos por Alzheimer são idosos, que têm múltiplas morbidades, sendo em geral hipertensos, diabéticos e com quadro de dislipidemia, alguns já sofreram doenças cardiovasculares, outros já tiveram problemas encefálicos e são pacientes que demandam um atendimento multidisciplinar. “Eles precisam de um geriatra para cuidar da parte clínica geral e do neurologista, que contribui com o diagnóstico e também com a medicação”, afirmou.
Fernando Aguiar lamenta o fato do Alzheimer infelizmente ser uma doença que não tem um tratamento de cura. “Todos os medicamentos até hoje utilizados no tratamento de Alzheimer, na fase inicial, têm a pretensão de retardar a progressão da doença. Mas mesmo aqueles pacientes que fazem uso de todas as medicações, a doença continua progredindo. Existem medicações que são usadas de forma pontual, para tratar alguns sintomas, como aquelas indicadas para os pacientes agitados e agressivos, e também para os que trocam o dia pela noite, a fim de modular o sono e o comportamento”, revelou.
O neurocirurgião disse que além dos cuidados médicos, esses pacientes precisam junto com os cuidadores de um suporte psicológico. “O paciente com Alzheimer se torna um doente que mobiliza uma ou mais pessoas na casa”, revelou.
Ele disse ainda que o convívio com a doença é muito complicado, por se tratar de uma patologia que não tem uma perspectiva de cura. “O paciente está sempre piorando, e você tem que ter pessoas cuidando dele como se cuidasse de uma criança, com assistência 24 horas. As pessoas que cuidam terminam se anulando, deixam de ter uma vida, e se não houver um compartilhamento, se não houver múltiplas pessoas que assumam a função de tomar conta do paciente você passa a ter uma dedicação em tempo integral”, alertou.
Prevalência
A prevalência geralmente ocorre a partir da sexta década da vida. “Tem um ou outro caso que aparece mais cedo, mas geralmente é a partir dos 60 anos”, ressaltou. A doença acomete tanto homens quanto mulheres. O médico afirmou que a prevalência é mais ou menos igual, sendo que há uma parcela maior de mulheres como pacientes acometidas, mas é uma proporção muito próxima a do homem.
Segundo o neurocirurgião, o Alzheimer não tem exatamente uma característica hereditária. “Não é o fato de você ter que vai determinar que a sua prole também terá. Comumente a gente vê que por ser um quadro demencial algumas doenças contribuem para o seu desenvolvimento como a hipertensão arterial, o diabetes e a dislipidemia, essas sim são doenças hereditárias e, por conseguinte, como fatores de risco, podem ter mais de uma pessoa na família com esse problema”, esclareceu.
Identificação da doença
Os sinais nos pacientes com a doença são identificados pela própria família. “O paciente começa a se perder, por exemplo, na rua, em um trajeto que já é habitual, a desconhecer pessoas que fazem parte da sua rotina no dia a dia, a perder dinheiro dentro do próprio quarto, é assim que a doença inicia”, afirmou o especialista.
Segundo ele, existem testes para identificar quando a doença está no início. “Começa-se fazendo uma avaliação neuropsicológica, há algumas tabelas, como a mini mental, que são mais simplificadas e muito utilizadas no consultório. Além disso, hoje os psicólogos que trabalham com doença comportamental e também lidam com diagnóstico de déficit de atenção e autismo, conseguem por meio de uma entrevista mais detalhada perceber sinais sutis logo no início dos sintomas”, revelou.
Prevenção
Para o neurocirurgião, a morte por Alzheimer é consequência da evolução da doença, mas muitos pacientes morrem antes em razão das outras comorbidades, por se tratar de pacientes idosos, que têm diferentes patologias. “Não necessariamente todo doente que tem Alzheimer morre por causa do Alzheimer”, disse.
Fernando Aguiar revelou que para prevenir a doença é preciso adotar as boas práticas de vida, porque elas são capazes de reduzir a idade biológica. “É necessário que você tenha uma alimentação saudável, faça exames médicos periódicos e possua um rígido controle sobre as doenças como hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia. Alguns fatores hoje como o estresse entram também nessa linha de cuidados, porque o estresse é causa de diversas patologias, por isso é fundamental praticar atividade física regular e manter-se ocupado”, enfatizou.
Investigando
A aposentada Maria Ivanete de Santana Oliveira, 64 anos, contou que a mãe tinha Alzheimer. Ela estava com 81 anos quando faleceu e desde os 76 anos tinha a doença. “Apresentou alguns sintomas e a gente começou a desconfiar. Como ela ia muito ao médico logo veio o diagnóstico, que confirmou o que a gente já suspeitava. Ela era forte, estava bem, mas depois começou a esquecer. Levamos para o geriatra, fez acompanhamento com o neurologista, mas a doença foi avançando e não teve mais o que fazer”, disse.
Maria revelou que a mãe não conhecia mais os filhos, não sabia mais os seus nomes. “Quando a gente chegava ela dizia: “Oi ela”, sabíamos que ela lembrava-se da gente, mas não conseguia dizer o nosso nome. Às vezes ela chorava que ninguém sabia a razão. Ela ficou muito debilitada, atrofiou os membros e morreu muito magrinha”, contou.
Após a morte da mãe, Maria disse que ficou com receio da doença. “Às vezes coloco o fósforo em um lugar e fico com a convicção que está ali, mas quando chego lá não encontro. Vim ao neurologista do Ipesaúde porque comentei com o meu clínico que andava muito esquecida e ele disse que como eu já tenho um histórico na família seria melhor avaliar”, afirmou.
Maria contou que tem uma vida saudável, não fuma, não bebe, faz caminhadas e procura sempre ocupar a mente fazendo artesanato, revendendo produtos de beleza ou se comunicando. “Gosto de conversar, de fazer amizades e tudo para o que me convidam quero participar, sou uma pessoa ativa, viajo muito e passeio bastante”, afirmou.
Doença sorrateira
A mãe da beneficiária, Iacir Soares de Araújo Silveira, 48 anos, também teve Alzheimer. Ela faleceu aos 76 anos de idade. Quando a família descobriu, a doença já estava em estágio avançado.
Para Iacir, Alzheimer é uma doença sorrateira, silenciosa. “A minha mãe começou a se urinar e a ficar agressiva, o diagnóstico de Alzheimer chegou tardiamente. Foi muito sofrido para a família. Chega um momento em que eles entram no mundo deles e acabam não sentindo tanto a doença”, relatou.
Na avaliação de Iacir, para quem fica cuidando do paciente com Alzheimer o sofrimento é maior por estar vendo uma mãe olhar para o filho e não o reconhecer. “Ela olhava para a minha irmã e chamava de vó. É muito difícil isso, muito complicado para a família. Ela já estava vivendo mais no passado. Uma vez ouviu uma voz, pensou que fosse da mãe dela e começou a chorar querendo a mãe”, contou.
Conforme Iacir, a mãe morreu porque broncoaspirou. “Chega o momento que até o engolir fica difícil, eles esquecem. Ficou quatro dias internada na UTI, mas acabou falecendo”, revelou.
Ela disse que para se prevenir é importante ter uma vida saudável, fazer exercícios físicos, não ficar sedentário e manter sempre a mente funcionando. “Esta é uma doença sorrateira, eu assemelho ela a depressão. Minha mãe começou assim, ela teve uma depressão por causa do falecimento do meu pai e foi a partir da depressão que ela desenvolveu o Alzheimer. É uma doença silenciosa também. É bom que as pessoas fiquem bem atentas a isso, porque não acontece somente com idoso, jovens estão tendo também”.